Pessoas que tiveram dengue são duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas da Covid-19. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Foram analisadas amostras sanguíneas de 1.285 moradores do município de Mâncio Lima, no Acre, onde o grupo trabalha na investigação de outras doenças.
A motivação para a pesquisa se deu a partir de dois estudos, um americano e outro brasileiro, que sugeriram que a infecção prévia por dengue poderia ser um fator protetor contra o coronavírus.
Diante disso, o primeiro passo do estudo pela USP foi verificar a presença de anticorpos contra o vírus da dengue em amostras de outubro de 2019 e da Covid-19 em novembro de 2020, através de testes de sorologia com as mesmas pessoas analisadas. A pesquisadora Vanessa Nicolete, autora principal do estudo, explica que a possibilidade de uma reação cruzada foi descartada e o porquê das pessoas que foram infectadas com dengue têm maiores chances de serem sintomáticas para o coronavírus.
A idade é outro fator relevante que foi considerado no estudo. Em geral, quanto mais velho, maior a chance de ter sido exposto à dengue. “Assim como vemos na população em geral, todas as idades são predispostas a ter anticorpos. Porém, em relação à infecção por Sars-Cov-2, os mais velhos foram os que apresentaram mais sintomas durante a pesquisa”, afirma Vanessa.
Os pesquisadores ainda não sabem quais são as causas do fenômeno, mas apontam duas hipóteses. Uma delas seria biológica: os anticorpos contra o vírus da dengue poderiam estar favorecendo de algum modo o agravamento da Covid-19. A outra é sociodemográfica: populações estariam mais vulneráveis às duas doenças por características diversas.
De acordo com o médico especialista em dengue, Werciley Vieira Junior, o vírus da Covid-19 hiper estimula o sistema imune produzindo citocinas, que são proteínas inflamatórias. “A dengue hipersensibiliza nossa capacidade de produzir essas proteínas e, com isso, favorece um processo inflamatório mais intenso da Covid-19. E, automaticamente, com os processos inflamatórios mais intensos, os sintomas são maiores”, explica.
Como diferenciar a dengue da Covid-19?
Muitas pessoas costumam confundir os sintomas iniciais da Covid-19 com a dengue. Werciley Vieira Júnior explica o porquê dessa associação entre as doenças. “Os sintomas iniciais da Covid-19 são um quadro gripal que pode vir com mialgia, que é a dor no corpo, pode vir com dor de cabeça e dor nas juntas. E a dengue tem como marcante a febre, dor no corpo e dor nas juntas. Porém a proporção de dor na junta é muito maior na dengue do que na Covid-19, e a febre da dengue é bem maior.”
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A dengue é transmitida ao ser humano a partir da picada do mosquito Aedes Aegypti que se desenvolve em água parada. No caso de locais com bastante incidência, como no Acre, o especialista em dengue destaca ainda alguns pontos para aumentar a proteção contra a doença. “Usar repelente e tela mosquiteira para evitar a entrada do mosquito já ajuda. Mas a melhor forma é diminuir os criadouros, seguindo as condutas de evitar água parada e evitar jogar lixo onde não se deve. Inibindo os criadores, diminuímos a taxa de proliferação do mosquito.”
O mosquito da dengue põe seus ovos em recipientes como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água da chuva. O mosquito pode procurar ainda criadouros naturais, como bromélias, bambus e buracos em árvores.
De acordo com o Boletim Epidemiológico n° 21 do Ministério da Saúde, atualmente o Brasil tem 348.508 casos de dengue. Em comparação com o ano de 2020, houve uma redução de 57,4% de casos registrados para o mesmo período analisado. Esta diminuição pode ser consequência do receio da população em procurar atendimento em uma unidade de saúde durante a pandemia da Covid-19, bem como um possível atraso nas notificações das doenças pelas equipes de vigilância e assistência para o enfrentamento da pandemia.
Ranking de casos de dengue no Brasil (por incidência)
Estado |
Estado |
Casos |
incidência (casos/100 mil hab.) |
1 |
Acre |
13653 |
1526,4 |
2 |
Goiás |
30441 |
427,9 |
3 |
Mato Grosso do Sul |
11071 |
394,1 |
4 |
Paraná |
38376 |
333,2 |
5 |
Mato Grosso |
10951 |
310,6 |
6 |
São Paulo |
132665 |
286,6 |
7 |
Distrito Federal |
7276 |
238,2 |
8 |
Santa Catarina |
16693 |
230,2 |
9 |
Amazonas |
5667 |
134,7 |
10 |
Bahia |
17791 |
119,2 |
11 |
Ceará |
9857 |
107,3 |
12 |
Pernambuco |
9674 |
100,6 |
13 |
Espírito Santo1 |
3781 |
93 |
14 |
Minas Gerais |
19240 |
90,4 |
15 |
Tocantins |
1378 |
86,7 |
16 |
Paraíba |
2785 |
68,9 |
17 |
Rondônia |
1201 |
66,9 |
18 |
Rio Grande do Sul |
7618 |
66,7 |
19 |
Rio Grande do Norte |
1353 |
38,3 |
20 |
Piauí |
823 |
25,1 |
21 |
Pará |
2072 |
23,8 |
22 |
Roraima |
101 |
16 |
23 |
Alagoas |
436 |
13 |
24 |
Rio de Janeiro |
1972 |
11,4 |
25 |
Maranhão |
760 |
10,7 |
26 |
Amapá |
89 |
10,3 |
27 |
Sergipe |
230 |
9,9 |
Desse total, foram confirmados 152 casos de dengue grave (DG), 1.984 casos de dengue com sinais de alarme (DSA) e 105 óbitos.
Fonte: Brasil 61