O Município de Parintins enfrenta problemas com a seca severa dos rios. A Defesa Civil contabilizou até semana passada 27 comunidades da zona rural em situação de isolamento devido à estiagem.
O interior do município é a área mais afetada. Localidades como Remanso, Aduacá, Caburi, Mocambo do Arari, Parintinzinho, Rio Jará, Panauaru, Zé Açu, Igarapé do Boto, Rio Juruá, Rio Tracajá, Rio Jacu e Buiuçu enfrentam problemas de transporte e acesso à alimentação.
Os moradores da comunidade São Sebastião da Brasília, localizada à margem esquerda do rio Amazonas, sofrem as consequências da seca deste ano.
Bancos de areia começaram a aparecer no rio Amazonas, ao mesmo tempo em que passaram a fazer parte do cenário amazônico.
Porém, as praias no meio do rio têm causado medo até mesmo para os condutores de pequenas embarcações, como é o caso do senhor José da Silva, de 55 anos, pescador que mora na comunidade São Sebastião da Brasília.
Seo José sugere à Agência Fluvial de Parintins a sinalização do rio para orientar os comandantes de embarcações, tanto de grande ou pequeno porte.
“Navegar em frente a nossa comunidade, se passar mais dias vazando, vai aparecer terra na frente. Estamos ficando sem renda. Não conseguimos mais pescar porque o rio está secando”, comentou.
José da Silva também ressaltou que a comunidade está determinada a paralisar o transporte de alunos porque não dá mais pra navegar. “Será preciso fazer o trajeto para a escola por terra”, salientou.
Região de cima
Em recente viagem à zona rural, o funcionário público estadual e ex-secretário de Produção, Lucivaldo Pereira, ficou impressionado com o que viu nas comunidades que ficam na região oeste, também conhecida como área de cima, por causa da estiagem.
Lucivaldo informou a existência de uma praia no meio do Paraná das Onças, em frente à comunidade, aumentando consideravelmente ao ponto de deixar as famílias isoladas.
Na Vila Nova, por exemplo, os moradores estão sem água potável. A água é coletada às margens do rio Amazonas, a distância de quase dois quilômetros da seda da comunidade.
A situação da Ilha das Guaribas não é diferente. Porém, tem água potável do Programa Salta Z. “Está bem difícil para quem mora nas comunidades rurais, tanto para a área de várzeas quanto da terra firme”.
Lucivaldo constatou que o rio Amazonas, onde era o canal de acesso à comunidade do Pajé, no Paraná do Arco, as pessoas têm que se deslocar por quilômetros de distância.
Na região do Tracajá, as comunidades Sagrado Coração de Jesus e Toledo Pizza, que ficam próximas a cabeceira do rio, são as mais prejudicadas.
Para que o ano letivo não seja prejudicado, os moradores do Sagrado Coração construíram uma ponte de madeira para o acesso dos alunos.
Com o rio seco fica impossível atravessar para a outra margem devido a formação de um lamaçal, uma espécie de lodo.
Foto: Divulgação
Na comunidade Santa Clara do Jauary, que fica próximo a Serra da Valéria, o cenário se repete. A moradora Joelma Marialva relata que todos sofrem com a estiagem.
São 48 famílias que dependem do lago da comunidade e de transporte para chegar até Parintins. “Além de uma longa extensão para chegar na comunidade nossa ponte também se encontra em péssimas condições. Enfrentamos mais uma escadaria de 114 degraus. Pedimos ajuda às autoridades competentes”, comentou.
A comunidade Parintinzinho, na divisa com o Estado do Pará, está completamente isolada. Conforme, Taiana Marques, os moradores estão tendo que caminhar por mais de uma hora e meia para se descolar em busca de alimento e água potável. “Levamos todo esse tempo para sair da nossa comunidade”.
Defesa Civil revela situação de áreas isoladas
A região de Parintins está em Estado de Alerta. O coordenador da Defesa Civil do município, Adriano Aguiar, em entrevista ao Repórter Parintins, revela a atual situação das comunidades afetadas pela estiagem.
Adriano afirma que a situação é preocupante e disse que está encaminhando o parecer da Defesa Civil para a Procuradoria, assim como para o prefeito Bi Garcia, que deverá assinar o Decreto Emergencial da Estiagem.
“A gente já observou que, tanto o Governo Federal quanto o Estadual, já se articularam para atender os municípios que estão sofrendo com a estiagem”.
O coordenador da Defesa Civil destaca as localidades mais afetadas pela estiagem. “Temos as comunidades de várzea, porém as de terra firme são as que ficam mais dificultosas, como a área do Tracajá, Zé Açu, as colônias de terra firme que são as mais atingidas. As agrovilas de Mocambo, Caburi e comunidades do entorno estão em situação de isolamento mais precário”.
Adriano Aguiar afirma que a Defesa Civil está estruturada para acompanhar as localidades afetadas pela seca severa no Amazonas.
“A gente montou um comitê de crise, de desastre, tanto naturais ou ocasionados pelo homem. Então, a gente tem como base esse comitê para atender toda a logística de lancha, carro, de transporte e de cadastramento de famílias”.
Dentre as principais dificuldades enfrentadas pelas trinta localidades rurais afetadas pela seca e o consequente isolamento, o coordenador da Defesa Civil destaca acesso às comunidades, acesso de alimentos, acesso de medicamentos, acesso das crianças para a escola e o fato também das famílias que trabalham com a produção rural.
Um dos canais de comunicação com a Defesa Civil é o WhatsApp onde estão todos os presidentes e coordenadores das comunidades de Terra Firme e Várzea. “Nele já começaram a chegar as fotos e os pedidos. A gente tem em torno de trinta comunidades que estão sofrendo muito com a estiagem, com o isolamento”.
Para tentar mitigar os impactos econômicos e sociais decorrentes da seca dos rios, a Defesa Civil realizou o cadastramento das comunidades, falando com os presidentes, com os coordenadores e vendo as quantidades de famílias dessas quase trinta comunidades pra que na hora que chegar um recurso, tanto municipal quanto estadual ou federal, a gente vai saber distribuir de uma maneira mais rápida.