Nesta quinta-feira, 12 de setembro, o Museu Nacional — primeiro museu e instituição científica do país — recebeu o Manto Tupinambá, no contexto da reconstrução do museu. O objeto, de quase 400 anos, estava fora do Brasil desde meados do século 17 e agora retorna para integrar a recomposição das coleções do museu, que foram destruídas no incêndio ocorrido em 2 de setembro de 2018.
Desde então, o Museu Nacional, que é gerido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — vinculada ao Ministério da Educação (MEC) —, dedica-se, junto a diversos parceiros, a reconstruir a instituição e devolver seu prédio histórico e suas exposições à sociedade, assim como a dar continuidade às atividades de ensino, pesquisa e extensão.
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A cerimônia de celebração do retorno do manto Tupinambá ao Brasil contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de lideranças indígenas, autoridades do MEC, do Museu Nacional, da UFRJ e dos ministérios dos Povos Indígenas e da Cultura. O presidente classificou o momento como extraordinário. Lula destacou que é começo de uma nova história e enfatizou a atuação do Museu Nacional/UFRJ. “Agradeço ao Museu Nacional da Dinamarca pela doação e parabenizo a direção do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Embaixada do Brasil na Dinamarca pelas tratativas que resultaram no retorno do manto ao Museu.”
O presidente ainda reafirmou o compromisso do governo federal com o reconhecimento e respeito aos direitos dos povos indígenas. “Visitamos a sala onde o manto está guardado. É impossível não reconhecer a beleza e a força dessa peça centenária. Talvez para os não-indígenas seja difícil imaginar a dimensão espiritual que o manto tem para os tupinambás, mesmo depois de tanto tempo fora do Brasil. nosso compromisso é cuidar da preservação deste patrimônio que é de todos nós, especialmente dos tupinambás, para que essa história seja conhecida por gerações futuras”, acrescentou.
O secretário-executivo do MEC, Leonardo Barchini, celebrou o retorno do manto, parabenizando os ministérios dos Povos Indígenas e da Cultura pelo cuidado e dedicação e todos envolvidos, como o governo da Dinamarca, as equipes da UFRJ e do Museu Nacional, pela ação que tornou possível o retorno do artefato em perfeito estado de conservação. “Este retorno do manto é muito mais que uma simples devolução de um objeto. Ele representa a reconexão com saberes tradicionais, a memória e a ancestralidade, essenciais para a construção da nossa identidade nacional”, acrescentou.
Barchini destacou ações do MEC para o fortalecimento da educação indígena, sob a liderança do ministro de Estado da Educação, Camilo Santana. "Destaco o papel do ministro Camilo Santana que tem colocado a educação indígena como prioridade em sua gestão." Entre as políticas citadas por ele, estão o reajuste da bolsa permanência dos estudantes indígenas em todas as universidades federais do Brasil. O valor passou de R$ 900 para R$ 1.400. A medida também beneficia estudantes quilombolas. “Neste ano, serão mais 5.600 bolsas, totalizando 18 mil até o final de 2024. Precisamos garantir que esses jovens possam estudar sem deixar seus territórios”, afirmou.
O secretário-executivo também destacou que o MEC, em 2024, já investiu mais de R$ 20 milhões na formação de quatro mil professores indígenas e que o Programa Nacional de Fomento à Equidade na Formação de Professores da Educação Básica (Parfor Equidade) aprovou 39 novos cursos de licenciaturas interculturais, criando 2.412 novas vagas para indígenas no ensino superior para novos professores.
O secretário-executivo ainda abordou o financiamento para a educação indígena. Lembrou que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) aumentou, pela primeira vez, o valor da matrícula da educação escolar indígena, passando de R$ 6.370 em 2023 para R$ 7.506 em 2024. Acrescentou que, no último mês, o MEC destinou R$ 32 milhões para ações emergenciais no território Yanomami e Ye’kwana, incluindo a construção de escolas e centros de formação. Barchini ainda enfatizou: “Pela primeira vez, incluímos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] as escolas indígenas. Serão destinados R$ 630 milhões para construir mais 113 escolas em todo o país”.
“O MEC está comprometido que nenhum jovem indígena precise deixar seu território para estudar e sonhar. Que a retomada do manto simbolize a retomada de um projeto coletivo de sociedade, construído com respeito à diversidade e as vozes dos povos originários”, concluiu Barchini.
O retorno do Manto Tupinambá é um passo significativo na valorização das culturas indígenas no Brasil. Ele é um objeto de grande importância para os povos originários do Brasil, especialmente para os Tupinambás, pois representa um símbolo de identidade, memória e pertencimento. Também é considerado uma entidade que dialoga com os Tupinambás, orientando-os em suas lutas e fortalecendo sua conexão com sua terra.
A reapropriação do Manto não apenas revitaliza a cultura Tupinambá, mas também reforça a relação entre os povos indígenas e seus territórios, promovendo um sentido de pertencimento e continuidade cultural.
O Manto Tupinambá segue em um espaço de guarda, em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, totalmente preparada para garantir a sua preservação. Sendo assim, o Manto não está em exposição, mas, em 2026, ele será destaque na reabertura das exposições do Museu Nacional, no Paço de São Cristóvão.
Reconstrução – O trabalho de reconstrução do Museu Nacional ocorre em etapas e é acompanhado pelo MEC, que já repassou, desde 2023, R$ 38,3 milhões. A previsão é de que, até o final de 2024, esse montante seja de R$ 45,5 milhões. A intenção do governo federal, sob orientação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é envolver parceiros estatais e privados, garantir os recursos no menor prazo possível e finalizar as obras para visitação pública até 2026.