Tecnologias monitoram biodiversidade, árvores e ar da Amazônia

Monitoramento contínuo ajuda a avaliar se há sinais de alerta

Tecnologias monitoram biodiversidade, árvores e ar da Amazônia Foto: João Cunha/Divulgação Notícia do dia 13/01/2025

O canto dos pássaros. A vibração que a onça-pintada emite ao caminhar pela mata. A comunicação entre os pirarucus na profundeza dos rios. No interior da Amazônia, sons da floresta funcionam como uma orquestra harmônica. Mesmo ouvidos destreinados conseguem perceber a sinfonia. Mas, se um dos “instrumentos” desafina ou para de tocar, o descompasso também é evidente.

 

A analogia entre a música e a biodiversidade amazônica é do biólogo carioca Emiliano Ramalho, de 46 anos, que mora há mais de duas décadas na floresta. É a melhor forma que ele encontrou para explicar como o monitoramento contínuo dos animais ajuda a avaliar o funcionamento do ecossistema e se há sinais de alerta.

 

Ramalho é diretor técnico-científico do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, na cidade de Tefé, no Amazonas, uma entidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ele coordena desde 2016 o Projeto Providence, que usa sistemas automatizados de som e imagem para estudar as espécies amazônicas. São mais de 40 sensores espalhados pela floresta, que realizam monitoramento em tempo real, 24 horas por dia e sete dias por semana.

 

“Por meio da tecnologia, conseguimos observar um número de espécies e tipos de comportamentos que seriam impossíveis de monitorar por meios naturais. Então, muda completamente a perspectiva de observação dos bichos. A tecnologia não exclui a necessidade, muitas vezes, de ter o ser humano indo em campo, mas ela se torna um tipo de sétimo sentido nosso”, diz o biólogo.

 

Emiliano Ramalho já trabalhou especificamente com a contagem de pirarucus, no início da carreira, e depois se tornou um dos maiores especialistas em ecologia e biologia de onças-pintadas, principalmente em ambientes de várzea. Em um cenário que sofre inundações durante três a quatro meses por ano, o felino se adapta e passa a viver no topo das árvores. O comportamento foi registrado cientificamente pela primeira vez pelo pesquisador.

 

O biólogo costuma dizer que a “onça-pintada é fundamental para a conservação da floresta e a floresta é essencial para a sobrevivência da onça-pintada”. Nesse sentido, o equilíbrio social e natural passa, necessariamente, por estratégias de conservação da biodiversidade amazônica. É esse trabalho, aperfeiçoado pelos instrumentos tecnológicos, que move Ramalho a acreditar em um futuro melhor.

 

“Para trabalhar na Amazônia, você precisa ter esperança. Sou otimista, porque a nossa geração e a próxima ainda vão ter chance de mudar o cenário de crise. Mas hoje a situação é muito crítica, porque não temos de fato mais zona de amortecimento. Se não mudar o paradigma de como deve ser o desenvolvimento da floresta, a gente vai perder a Amazônia”, analisa o biólogo.

 

Fonte: Agencia Brasil

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